Mais um? Vai continuar?
Você não vê?
O inverno de nossas vidas se aproxima
E já estamos há tanto
Experimentando esse frio congelante
Que nem nos importamos mais
Com os pássaros mortos e as plantações de milho perdidas
Desaparecem as crianças mudas
Que tanto tentamos proteger empunhando armas e
Cuspindo Desespero.
Mas elas continuam vindo em nossos sonhos
Assustadoras e reais
Encantadoras e letais
E gritamos, pois elas não podem ter saído de nosso peito.
Os deuses que escolhemos viraram pedra
E eu tentei tanto te dizer que eu não seria capaz...
E nossas drogas não serviram para aplacar o desejo
E tivemos que nos devorar tão vorazmente
Que mais um mês, um ano e não restaria nada.
Talvez tenha sido divertido, talvez mórbido,
Mas provavelmente foi apenas real.
Eu me via mentindo mais e mais
Um deus em sua plena onipotência
E eu juro que quase acreditei
Quem diria... Quase...
E vi você mais forte que eu
Colecionando feridas que eu nunca poderia tratar
E beijando desconhecidos
Que eram sempre
Tão estúpidos quanto necessários.
E agora o palco fica livre
E posso encenar aquela velha peça
Talvez até minha mãe venha ver.
Comprei um buquê de flores, querida;
Esqueci-as dentro do trem, e ele já passou...
Fica claro então que esse deus
Nunca foi tão onipotente assim.
A guerra acabou
E é melhor você partir
E encontrar alguém que não viva num permanente estado de sítio.
Julho, 2004.
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