quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Travessuras


 Luis Buñuel


Era em Madrid, meados da década de 20. O ambiente artístico era invadido pelo jazz norte-americano, pelas idéias de Freud e Marx e pela avant-garde. Uma revolução minimalista, sutil e insidiosa. Os amigos Luis Buñuel, Garcia Lorca e uma amiga dos dois que não foi identificada na história tinham maneiras peculiares de se divertir. Numa tarde de sol, essa morena de olhos claros vestia-se como uma típica prostituta madrilena e subia num bonde lotado, atraindo os olhares ameaçadores das senhoras que se sentem desafiadas por aquela ousadia e dos senhores hipócritas que temem serem reconhecidos. Na parada seguinte, Lorca tomava o mesmo bonde, vestido de padre, e começava a molestar a moça, para espanto de todos. O bonde seguia seu trajeto, e então Buñuel, fantasiado de policial, subia no bonde, batendo em Lorca, e repreendendo-o: “Por que vocês padres estão sempre incomodando as prostitutas”? A perplexidade era geral. A indignação também. Ainda estamos na mesma Espanha católica e machista, mesmo que se trate “apenas” de uma travessura de jovens ateus. Na parada seguinte, os três amigos desciam do bonde e iam para um bar, beber até cair. Eram apenas pessoas entediadas.


2 comentários:

Anônimo disse...

Gostei do enredo do texto. Boas referências (Buñel e Lorca). E a escrita é macia. Tranquila.
Bom.

Anônimo disse...

Ah sim, e gostei muito do layout do blog. Simples, cru e direto.
:)

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