terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Veredas Blues


Onde estará meu antigo diário perdido? Preciso encontrá-lo. Nele, inscrevi o que havia de mais importante em todas as minhas experiências e erros (seriam erros e experiências meros sinônimos?). Toda vez que o destino tocou-me fantasiado de acaso, todos os fotogramas de minha pequena rebelião contra a mera existência, os antigos sinais de religiões pagãs decifrados, a língua secreta dos gatos, os infanticídios acobertados, as doces perversões humanas; além, claro, dos sons demoníacos saídos dos saxofones, guitarras, trompetes e gargantas sagrados, os sonhos exibidos em formas de sombras dançantes, as palavras que exprimem o que não tem nome; tudo estava gravado ali, naquele pequeno caderno coberto de recortes delicadamente arranjados por mãos sutis, e agora me sinto mudo, disperso, incapaz de lembrar quem sou sem este registro onírico das paisagens que visitei em sonho ou na terra. Eu gostaria de compor um blues com aquelas palavras. Um blues para as veredas que tenho atravessado. Um blues pelas estradas que virão, outro por aqueles que ainda sonharão juntos comigo. Eu preciso de uma canção no escuro. Preciso de vozes que acalentem, e de olhares ameaçadores. Preciso do meu livro imaginário de poemas perdidos em alto mar, e que a garrafa chegue a seu destino e encontre todos os corações solitários que puder.

2 comentários:

Priscila Milanez disse...

lindo, Rô! O título é demais! E amei isso: "Toda vez que o destino tocou-me fantasiado de acaso..."
Ouvi uma balada blues aqui...

Cleice Souza disse...

Obrigada pela visita.
Belos textos aqui também.
:)

Deixa eu bagunçar você

Durmo na esperança de sonhar contigo Acordo somente pro desejo de te encontrar Menos que obsessivo, meu amor por você é abrigo ...