Não sorva a fúria
sorvete dos brutos
nem namore a violência
mar de sangue jovem
Aos sensíveis
a serenidade
aos terríveis
o perdão
O mundo quer amolecer cacetes
O mundo quer endurecer corações.
(André Dahmer)
sábado, 25 de maio de 2013
terça-feira, 21 de maio de 2013
domingo, 19 de maio de 2013
De Almas e Dores
"Vi que ela continuava soluçando, de mansinho, exalando alguma tristeza remota que a trepada tinha despoletado na alma dela. Por que a Rejane, sem dúvida, é dessas mulheres que têm uma puta duma alma imensa e fazem questão de exibi-la a todo mundo. E a grande alma dela sofria. As almas, de um modo geral, o que fazem é isso mesmo, sofrer. E quanto maiores são, mais sofrimento são capazes de produzir para suas donas e donos".
Reinaldo Moraes, em "Pornopopéia".
sexta-feira, 17 de maio de 2013
Dor Elegante
"Elegant Man in the Mirror" - Leon Gordon
Um homem com uma dor
é muito mais elegante.
Caminha assim de lado
como se, chegando atrasado,
chegasse mais adiante.
Carrega o peso da dor
como se portasse medalhas,
uma coroa, um milhão de dólares
ou coisa que os valha.
Ópios, édens, analgésicos,
não me toquem nessa dor.
Ela é tudo que me sobra.
Sofrer vai ser a minha última obra.
(Paulo Leminski e Itamar Assumpção)
quarta-feira, 15 de maio de 2013
Na Foto: Serge Gainsbourg & Jane Birkin
"My Dear,
find what you love and let it kill you.
Let it drain you of your all. Let it cling onto your back and weigh you down into eventual
nothingness.
Let it kill you and let it devour your remains.
For all things will kill you, both slowly and fastly, but it's much better to be killed by a lover
- falsely yours"
Charles Bukowski.
segunda-feira, 13 de maio de 2013
Por acaso, me peguei relendo tuas
mensagens. E, atrevido, fui prestar atenção a tudo que estava nas entrelinhas,
os recados, as pistas que você deixava de maneira mais ou menos direta. Por
acaso, de repente era sua voz que eu ouvia. De repente, sua boca se abrindo. De repente,
seus cabelos e suas mãos sobre mim. E tudo que é doçura e embriaguez nos seus encantos. E
então o que era calafrio se fez paz. Pensando bem, não foi tão por acaso assim.
domingo, 12 de maio de 2013
Para o Dia das Mães
"Pois, eu te digo que o meu maior temor
é que quando minha mãe se for,
ela vá intranquila e sem a sensação
de partir com a missão cumprida".
quarta-feira, 8 de maio de 2013
Na Eternidade de um 'Até Logo'
Foto: Tatiana Zanghi
Eu finalmente vou sentindo
crescer dentro de mim algo além deste rancor que sempre se espalhou por minhas
células feito câncer e que me debilitou em minhas melhores horas. Sinto
finalmente algo capaz de interromper esta metástase demoníaca, o sentimento mesquinho
e torpe capaz de entupir minhas artérias e perfurar meus órgãos. Algo que não
seja este veneno. Sinto fluir toda a energia gerada pelos impulsos elétricos de
minhas sinapses mesmo nas ações mais ordinárias. Tomar um banho, acender um
cigarro, escutar Morphine, olhar para uma foto sua. Todas essas coisas que eu
faço todos os dias, cada uma delas liberando um pouco mais dessa energia que
por tanto tempo se deteve entre meus rins. E eu não sei bem quando isso começou,
nem por que, mas eu sei que tem a ver com aquele seu beijo e com o fim de
minhas ilusões. Eu, que já me ajoelhei em desespero à espera de Deus, aprendi
enfim a mais dura das lições. Soube desde cedo que poderia ser o que quiser,
mas foi tarde demais que aprendi que não poderia jamais ter você. Sob a minha
língua, sob o suor de meu corpo, sob tudo que eu considero sagrado, havia
apenas seu corpo e um momento, e nada mais que isso. É nesse tipo de desencanto
em que os homens são forjados. E o inferno é construído. E meu corpo ferve. E
minha imaginação se incendeia. Os vazios são preenchidos. Blasfêmias são ditas.
Recantos proibidos são devassados. O amor nasce. Para morrer. Em seguida. Na
vala comum de um beijo de despedida.
terça-feira, 7 de maio de 2013
“O senhor está olhando para fora,
e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém pode o aconselhar
ou ajudar – ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo.
Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos
recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe
fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais
tranquila de sua noite: “Sou mesmo forçado a escrever”? Escave dentro de si uma
resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa
por um forte e simples “sou”, então construa sua vida de acordo com essa
necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá
tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão. Aproxime-se então da natureza.
Depois procure, como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, ama, vive e
perde. (...) Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse.
Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair suas
riquezas. (...) Se depois desta volta para dentro, deste ensimesmar-se, brotarem
versos, não mais pensarás em perguntar seja a quem for se são bons. Nem tão
pouco tentará interessar as revistas por esses seus trabalhos, pois há de ver
neles sua querida propriedade natural, um pedaço e uma voz de sua vida. Uma
obra de arte é boa quando nasceu por necessidade. Neste caráter de origem está
o seu critério – o único existente. Também, meu prezado senhor, não lhe posso
dar outro conselho, fora deste: entrar em si e examinar as profundidades de
onde jorra sua vida; na fonte desta é que encontrará resposta à questão de
saber se deve criar.”
Rainer Maria Rilke - Cartas a Um Jovem Poeta (Trecho da primeira carta)
segunda-feira, 6 de maio de 2013
sexta-feira, 3 de maio de 2013
Der Himmel über Berlin (Asas do Desejo)
Quando a criança era criança,
andava balançando os braços. Desejava que o riacho fosse rio, que o rio fosse
torrente e essa poça, o mar. Quando a criança era criança, não sabia que era
criança. Tudo era cheio de vida, e a vida era uma só. Quando a criança era criança,
não tinha opinião, não tinha hábitos, sentava-se de pernas cruzadas, saía
correndo, tinha um redemoinho no cabelo, não fazia pose para fotos.
Quando a criança era criança, era
tempo dessas perguntas. Por que eu sou eu e não você? Por que estou aqui e não
lá? Quando começou o tempo e onde termina o espaço? Será que a vida sob o sol
nada mais é que um sonho? Será que o que vejo, escuto e cheiro não é apenas uma
miragem do mundo anterior ao mundo? Será que realmente existem o mal e pessoas
malvadas? Como é possível? Eu, que sou eu, não existia antes de existir. E no
futuro eu, que sou eu, não serei quem sou.
Quando a criança era criança,
detestava espinafres, ervilhas, arroz-doce e couve-flor refogada. Agora ela
come de tudo, e não apenas porque precisa. Quando a criança era criança,
acordou numa cama estranha, e hoje isso é frequente. Muitas pessoas lhe
pareciam bonitas antes; hoje é raro, só com sorte. Tinha uma visão clara do
paraíso; hoje consegue apenas supor. Não conseguia imaginar o nada; hoje treme
ao pensar. Quando a criança era criança, brincava com entusiasmo. Hoje, só se
entusiasma quando seu trabalho está envolvido.
Quando a criança era criança,
vivia de maçãs e pão, e ainda é assim. Quando a criança era criança, amoras
caíam em suas mãos, e ainda é assim. As nozes deixavam sua língua áspera, e
ainda o fazem. Ao chegar ao topo da montanha, queria outra mais alta. Em cada
cidade, desejava outra cidade maior. E ainda o faz. Ficava tímida diante de
estranhos, e ainda fica. Aguardava a primeira neve, e continua aguardando.
Quando a criança era criança, atirou uma lança de madeira contra uma árvore, a
qual tremula ali ainda hoje.
Handke - Wenders. Inspirado no Poema "Lied Vom Kindsein" de Rainer Maria Rilke.
Handke - Wenders. Inspirado no Poema "Lied Vom Kindsein" de Rainer Maria Rilke.
quinta-feira, 2 de maio de 2013
Das Folhas que, no Outono, Caem e Morrem
Quero-te por perto e ver de perto seu sorriso
Quero que perdoe minha esquisitice
E até os surtos de lucidez que não me fazem bem.
Mas não te quero mansa
E isso é constante
Quero-te puta comigo, mas não sei como te irritar
Ontem, eu vi uma mulher que poderia ser você
Usando um lenço no pescoço que poderia ser o seu e
Um perfume que, bem,
Jamais teria seu cheiro.
É outono, e eu não quero que algo tão bonito
Morra como as folhas que estão caindo
Mas, se folhas que morrem enfeitam ruas
Que assim seja.
Existem trevas o suficiente em meu coração
Para serem iluminadas pela lembrança
De seu sorriso.
É outono e logo será inverno:
É quando eu costumo despertar.
Quero que perdoe esse desabafo e
Essa ânsia
Quero-te de volta
Mais do que já desejei qualquer outra coisa.
Mas, se você for outonal,
Eu estou preparado para sua ausência.
Convidei meus melhores fantasmas para o jantar.
quarta-feira, 1 de maio de 2013
Não diz tudo, mas poderia
"You make me smile
You make me smile
Come through and save my day
You make me smile
You make me smile
In very special way"
terça-feira, 30 de abril de 2013
Propriedades Químicas
Houve um tempo em que desejei consumir de uma vez
Todos os diferentes entorpecentes capazes de,
Num calor fulgurante ou euforia letárgica,
Dissolver meu coração.
Artigos de proveniência duvidosa,
E doses modestas de um pó fruto da união perfeita
Entre natureza e química;
Mas descobri cedo que
A loucura não passa; a febre não passa;
Acontece que a agitação não passa,
E cada gole do vinho leva-me um passo mais longe
Do caminho reto da antiga estrada.
Eu trago dentro de mim canções inquietas
Que anseiam por ganhar vida toda vez que beijo seus lábios,
Eu não minto.
Eu apenas bebo.
Então eu tomo outro trago:
De vodka, cigarro,
Pílulas pra dormir ou outro remédio qualquer.
Líquido ou sólido,
Se eu tomo, é para te encontrar em delírios
E para me perder na artificialidade desses paraísos;
Nesta busca, enlouqueci.
Não sei se loucura sacra, loucura profana,
Loucura encantada dos ingênuos ou
Loucura sexual de pervertidos.
Mas, era loucura
E encontrei nela as propriedades químicas que provocam
As convulsões latentes da vida.
Espetando nas veias de minha mente
Doses cavalares de junk sentimental,
Experimentei algumas dessas convulsões:
A primeira veio aos 15 e profanou meu coração;
De novo aos 17, e já não era dono de mim.
Após os 20, as convulsões aumentaram,
E ao som de cruéis vozes inglesas
Dancei nas trevas mais profundas do desejo.
Tomado de sedução, malícia e rubor;
Às convulsões seguiam o delírio,
O torpor, a leveza. Escuridão e silêncio, como o Teixo de Sylvia.
E as cores da solidão foram pintadas na tela do acaso
Que abençoou a loucura e que agora,
Cobra o alto preço de tocar com os pés
Nuvens de espumas de champagne.
Carrego como um fardo os dias sóbrios,
Os dias cheios de esperança.
Cultivo desespero em esquinas estranhas,
Colho prazer nessas presenças raras e perturbadas.
E procuro diariamente nestes olhos
As alucinações sentimentais que me cativam,
Desajustado como sou,
Quero injetar naqueles olhos
As propriedades químicas que me dominam.
(Outono de 2008)
segunda-feira, 29 de abril de 2013
Francamente, foi de graça.
"Na Praça Clóvis
Minha carteira foi batida
Tinha 25 cruzeiros
E o seu retrato
25, francamente, eu achei barato
Pra me livrar do meu atraso de vida"
Paulo Vanzolini, que eu conheci tarde.
No Fim da Ladeira, Entre Vielas Tortuosas
"Vem até mim um senhor da fala lenta
Diz que bebendo assim eu nem chego aos 40.
Teima que sabe bem o que deixa um homem no estado em que eu tô
E me alerta que auto-piedade é a sequela mais comum do amor.
Eu nem ouso discordar.
Esse esteve em meu lugar."
domingo, 28 de abril de 2013
Lobo Antunes
“Talvez possamos tentar fazer amor.
Essa ginástica pagã que nos deixa no corpo, depois de acabado o exercício, um
gosto suado de tristeza no desastre dos lençóis: A cama não range (...) perturbando
as carícias sem ternura que são como que o motor de arranque do desejo, nenhum
de nós sente pelo outro mais do que uma cumplicidade de tuberculosos num
sanatório, feita de uma melancólica tristeza de um destino comum, já vivemos
demais para correr o risco idiota de nos apaixonarmos, de vibrarmos na alma e
nas tripas exaltações de aventuras, de nos demorarmos tardes a fio diante de
uma porta fechada, de ramos de flores em riste, ridículos e tocantes (...), o
tempo trouxe-nos a sabedoria da incredulidade e do cinismo, perdemos a
simplicidade da juventude com a segunda tentativa de suicídio (...) e
desconfiamos tanto da humanidade quanto de nós mesmos, por conhecermos o
caráter azedo do nosso egoísmo oculto sob as aparências de um verniz generoso".
sábado, 27 de abril de 2013
O Cúmplice
(Jorge Luís Borges)
Crucificam-me e eu tenho que ser a cruz e os pregos
estendem-me a taça e eu tenho que ser a cicuta
Enganam-me e eu tenho que ser a mentira
Incendeiam-me e eu tenho que ser o inferno
Devo louvar e agradecer cada instante do tempo
Meu alimento é todas as coisas
O peso preciso do universo, a humilhação, o júbilo
Devo justificar o que me fere
Não importa minha ventura ou desventura
Sou o poeta
sexta-feira, 26 de abril de 2013
Despedida
"Foi um beijo umedecido, guilhotinesco e fatal".
- Jair Naves, "Guilhotinesco.
Ela foi embora, como se não fosse
nada demais. Me beijou, e depois foi embora, como se não fosse sentir falta.
Não foi um beijo frio de despedida. Foi algo a mais. Talvez tenha sido o beijo
mais intenso que beijamos, só parecido com o primeiro. Ela foi embora e eu
fiquei ali, olhando, sem esboçar reação. Um homem de verdade precisa reconhecer
quando é o fim. A essa bela virtude, chamamos covardia, e é essencial a um homem
adulto. Ela foi embora, e não tem mais nada. Ela foi embora e eu, macho típico
da espécie, me pego pensando nas menores coisas, exatamente aquelas que não
deveriam ser pensadas em momentos como este. Talvez por isso ela tenha ido
embora, na verdade. Eu lembrava de seu hábito horrível de me beijar antes que
eu escovasse os dentes pela manhã. Lembrava de minha babaquice na noite de
ano-novo, ciúmes de quem está entediado querendo demonstrar virilidade.
Lembrava que levamos sexo a um novo patamar de atividade lúdica. Dela falando
sobre a vantagem degustativa da porra dos vegetarianos. De como ela começou a
gostar de metal depois de velha por minha causa. Incrível como tudo isso pode
parecer uma farsa estúpida agora, que ela foi embora. Agora que ela me beijou
desse jeito. Agora, que, ao invés de pensar em maneiras de trazê-la de volta,
eu fico apenas olhando-a partir cheio de certeza de que ela tem o traseiro mais
bonito do mundo.
Amor Concreto
Eu te amo euteamo euteamo euteamo
FODA-SEeu não te amo mais
Foda-sefoda-sefoda-sefoda-sefoda-sefoda-se
Eu te amo
Que eu me foda, eu não me amo
Eusó te amo
E isso é foda.
terça-feira, 23 de abril de 2013
domingo, 21 de abril de 2013
Como a Noite, Enquanto Ela me Devora
Não espere que eu vá fazer de tudo para manter essa esperança viva;
A Noite não passa, no fim das contas,
de uma dama charmosa e vingativa.
Que com os olhos nos persegue,
Mas, com uma das mãos nos afasta.
A morte é a Noite
Cansada de ser vencida pela luz do sol pela manhã.
É a amante que, cansada das mesmas estórias,
Dos mesmos gestos, das mesmas posições,
Quebra copos, bate a porta atrás de si,
Nos deixa o gosto amargo
De perder o que nem nosso era.
Não tente entender a Noite.
Ela é uma dama orgulhosa e atraente.
E não importa o que ela queira,
Nos fustiga com promessas, mãos e dente.
Irmão, não te aflija com a lembrança da dona
Que por hora não te abandona:
A Noite é apenas temporária.
domingo, 14 de abril de 2013
Alguém Está Perdido
No metrô fico sabendo de mais uma pessoa que sumiu
Mais um desaparecido
Parece que todos os dias nesta cidade, alguém se perde,
Mas se perde pra valer
Uma criança no parque de diversões, perdida;
Um adolescente que fugiu de casa;
Um cachorrinho que escapou pela fresta na porta;
(pra não falar de meus amores balas-perdidas pelas noites)
São tantos os perdidos que às vezes eu acho que
Há mais gente perdida do que encontrada
Ou mais pessoas que se perdem do que as que se encontram
E muitas que se desencontram
Ou que todo mundo, no fundo, está um pouco perdido
E, se eu penso um pouco mais, começo a me perguntar
Se na verdade,
Quem se perdeu
Na verdade não se achou.
E se somos nós os perdidos.
Porque se for assim, eles não querem ser encontrados
E nossas vidas é que não passam de desencontros.
Como quando daquela vez, no Largo do Machado,
Quando você saiu três minutos antes que eu chegasse
E nós nunca nos conhecemos.
Baby, estou perdido até hoje.
sábado, 13 de abril de 2013
Vou acordar cedo, fazer café
sentar na mesa
e te odiar
por ter me amado fingindo
por ter acabado sorrindo
e por ser tão bonito de cabelos molhados todas às sete horas da manhã.
Vou sentar na mesa, pegar o pão na torradeira
acender o cigarro de cinco centavos do bar atrás da casa da minha vó
e te odiar
por ter me dado uma flor de papel escrito Joana
por ter me prometido aquele sexo bacana
e ter voltado só depois do carnaval
vou passar a manteiga no pão - muita manteiga
ajeitar os cabelos com o dedo
pegar a pistola automática
e te odiar
por ter morrido tão rápido.
(Maria Eduarda Gimenes)
sentar na mesa
e te odiar
por ter me amado fingindo
por ter acabado sorrindo
e por ser tão bonito de cabelos molhados todas às sete horas da manhã.
Vou sentar na mesa, pegar o pão na torradeira
acender o cigarro de cinco centavos do bar atrás da casa da minha vó
e te odiar
por ter me dado uma flor de papel escrito Joana
por ter me prometido aquele sexo bacana
e ter voltado só depois do carnaval
vou passar a manteiga no pão - muita manteiga
ajeitar os cabelos com o dedo
pegar a pistola automática
e te odiar
por ter morrido tão rápido.
(Maria Eduarda Gimenes)
terça-feira, 9 de abril de 2013
Indomado
Foto: Pierre Jouson.
Tudo aquilo considerado
Fundamental, justo e comedido
Tudo,
Deverá ser descartado
quando da colheita dos frutos
de nossos encontros
clandestinos na seara dos amores brutos,
do coquetel explosivo de nossos beijos.
No limite estafado da noite;
Na cumplicidade melancólica que a madrugada inspira;
No sorriso derramado pelos primeiros raios de sol;
Na Razão desfigurada a golpes da navalha
por promessas febris
da sensibilidade apaixonada;
No meio de tudo isso que não passa de
sentimentalismo barato, poesia suja,
Minha certeza de que você há de ser minha.
Ainda que não saibas, ainda que não possas.
Desejo, Desejo, minha doença.
domingo, 7 de abril de 2013
Carta Aberta a Ela, Que Conhece Meus Fantasmas
De minha casa, eu posso ouvir os trens quando eles passam. Gosto de parar próximo à janela esperando o barulho de seu maquinário e acender um cigarro. Romantismo kitsch digno de quem se ressente de imbricações amorosas. Tudo que sei é que voltei à poesia, ao conhaque, ao cigarro e nunca me senti tão bem. Posso sofrer, mas sem o rancor de quem procura obssessivamente escapar à dor. Eu transformei meu quarto em um santuário, e é claro que há nele um altar para você. Ah, se você estivesse aqui para ver quem eu me tornei. Eu ainda sou o mesmo menino tímido, mas hoje eu sei tudo o que você dizia que eu era e eu nunca acreditei. Agora, todo dia é um grande dia. Na noite passada eu lembrei de você. Vai ficar tudo bem. Há pessoas agora em minha vida que eu não imagino como seria sem elas. Tenho grandes planos. Mas sem me negar, nunca mais. Eu estou disposto a pagar o preço para continuar sendo quem eu sou e fazer coisas que talvez não façam parte de minha natureza. Eu continuo procurando por coisas em lugares onde não há nada. Só que minha grande frustração é ainda não saber o que você quis dizer quando me pediu para ouvir "Precious Illusions" antes das outras músicas.
sábado, 6 de abril de 2013
E. Hopper, "Reclining Nude".
"Sou impuro, um libertino
E toda vez que você desabafa seu mau-humor
Eu pareço perder a fala,
Você deslizando lentamente para fora de meu alcance.
Você me cultiva como uma sempre-viva
Você nunca vê a solidão em mim
De maneira nenhuma".
Placebo, "Without You, I'm Nothing".
quinta-feira, 4 de abril de 2013
Prece de um Dia Quase Igual a Todos
Deus dos delicados, não me abandone nessa guerra insana. Minha máquina de ser beira a pane enquanto o veludo da voz de Billie lambe as paredes do lusco-fusco. Abençoe, senhor, tudo que dói em nós, indispensável. As tardes despenteadas em Grumari, as lágrimas do homem que me amou e nunca disse, o negro agonizante sob o sol narcísico de Ipanema, as crianças que tão cedo me deixaram farta de lágrimas e leite, o eco esquivo de Frederico, sinais de musgo. Abençoe as escarpas da minha vida enquanto desenterro essas palavras - o carmim destas palavras - com as lascas fatiadas da dor. Sonho piscinas, atraída pelas labaredas. Preciso dormir bem dentro das suas asas enormes, pai.
(Ledusha B. A. Spinardi)
quarta-feira, 3 de abril de 2013
Os Adormecidos
Nem um só mapa registra
A rua dos dois adormecidos.
Nós perdemos sua pista.
Jazem como se submersos
Em imutável luz azul,
Aberta, a porta de vidros
Com laços de fita amarela.
Por esta fresta penetra
Odores de terra úmida.
A lesma deixa um rastro prata:
Negras sebes cercam a casa.
Então olhamos para trás.
Morte feito pétalas lívidas
Entre folhas de formas tesas
Eles dormem, boca a boca.
Uma névoa branca esvoaça.
Suspiram narinas mínimas,
E eles reviram em seu sono.
Longe daquele leito ameno
Somos um sonho que eles sonham.
Suas pálpebras retêm sombras.
Nada vai lhes acontecer.
Trocamos a pele e nos movemos
Dentro de um outro tempo.
(Sylvia Plath)
A rua dos dois adormecidos.
Nós perdemos sua pista.
Jazem como se submersos
Em imutável luz azul,
Aberta, a porta de vidros
Com laços de fita amarela.
Por esta fresta penetra
Odores de terra úmida.
A lesma deixa um rastro prata:
Negras sebes cercam a casa.
Então olhamos para trás.
Morte feito pétalas lívidas
Entre folhas de formas tesas
Eles dormem, boca a boca.
Uma névoa branca esvoaça.
Suspiram narinas mínimas,
E eles reviram em seu sono.
Longe daquele leito ameno
Somos um sonho que eles sonham.
Suas pálpebras retêm sombras.
Nada vai lhes acontecer.
Trocamos a pele e nos movemos
Dentro de um outro tempo.
(Sylvia Plath)
segunda-feira, 1 de abril de 2013
I Have Forgiven Jesus
"But I have forgiven Jesus
For all the desire
He placed in me
When there's no one i can turn to
With this desire.
(...)
Why did you give me so much desire
When there is no where i can go
To offload this desire?
And why did you give me so much love
In a loveless world?
When there's no one i can turn to
To unlock all this love."
Um Caso de Amor Não-Relatado
E daí que seja você a ditar o ritmo de meus dias
mesmo sem saber?
E daí que você me vire as costas quando te chamo?
Eu sei admirá-las também, tão bem como
o resto de seu corpo.
E daí que eu lembre de ti ao escutar
a Lacrimosa de Mozart?
E daí?
E daí meus delírios em febre,
meus dias escuros
meus poemas mal escritos?
Somos dois personagens de uma lenda antiga
Avatares de deuses caprichosos
Boxeadores cansados,
Aguardando o soar do gongo.
Brincando de alquimistas entre o crepúsculo e a aurora.
Crentes nas horas vagas,
Minha fome fazendo amor com seu cinismo.
Num sonho do qual pouco me lembro,
Você chegava vestida de cinza ao meu funeral
e chorava.
Nem você, nem eu, não ele,
eu e você, nós nunca fomos tão felizes.
sábado, 30 de março de 2013
Sete Epitáfios Para uma Dama Branca (Que, Descalça, media 1,65 m e, nua, pesava 54 Kg)
(Marçal Aquino)
EPITÁFIO V
Nunca dei presentes a ela, nunca
recebi nada. Não conheci a letra dela, nunca a vi escrevendo. Não sei se sua
caligrafia era redonda ou inclinada, legível ou feia, ou se ela colocava
bolinhas no lugar dos pingos nas letras. Eu nunca disse que a amava nem a ouvi
dizer isso pra mim. Nunca falamos de amor, de filhos, de amantes, de passado.
Do futuro. Fodíamos, apenas.
Nunca soube seu signo nem ela o
meu. Ela não me falou sobre sua flor favorita ou sua cor predileta. Sua
primeira vez. Ela não perguntou sobre a minha. Não sei se ela possuía todos os
dentes. Nunca conversamos sobre religião, não sei se ela acreditava em Deus. Em
reencarnação ou em horóscopo. Não sei se ela gostava de gatos ou se gostava de
colecionar selos. Nunca perguntei se ela se interessava por política, futebol ou
mesmo se tinha o costume de se masturbar. Não sei se ela cozinhava bem ou o
prato de que gostava mais. O que achava da moda, ela jamais me falou. Curtia
samba? E caipirinha? Como foi quando criança, ela não me contou. Qual seu
número de sorte? Eu pagava pra saber se alguma vez aconteceu de ela olhar com
desejo para outra mulher. Os nomes de seus pais, o que ela achava de homens com
barba, das loiras, de armas e de tatuagens – são coisas que eu nunca vou saber.
Não descobri se alguma ocasião ela passou fome na vida. Se teve uma tia
epiléptica. O que achava dos pretos? E dos cavalos? Gostava de novelas? O que
pensava de garotas que pedem a sujeitos que batam nelas na hora de trepar?
Achava o que do dinheiro, essa mulher? Que número calçava? Tinha medo de
baratas. Terá algum dia o pai espancado a mãe na frente dela (e, diante de seu
protesto, mandado que calasse a boca pra não tomar uns sopapos também)? Será
que, como eu, ela achava que felicidade é um negócio que inventaram para enganar
os pobres, feios e esperançosos? Não sei se ela teve um primo que vivia pedindo
dinheiro emprestado. Não sei se tomou drogas um dia ou se era bamba em matemática
no tempo da escola. Se gostava de resolver as palavras cruzadas do jornal. Será
que ela sabia jogar truco? Teve todas as doenças da infância? Tinha ideia de
como é que os caras matam cavalos para fazer mortadela no sul da Bahia? Foi
assaltada alguma vez? Transou quando na verdade estava a fim de dormir e
esquecer? Nunca soube se ela viajou de trem ou de navio. Se teve vontade de
matar alguém que um dia amou. Se cortou os cabelos só para agradar a algum
homem. Se cortou o pé em caco de vidro quando mais nova. Se em algum momento
humilhou alguém e se arrependeu depois. Se gostava de brócolis. Se pensou em
sexo com animais. Se em alguma noite perdeu o sono por conta de dívidas. Se
pensou em fugir. Se lembrava dos sonhos depois que acordava. Se sonhava. Se
tinha medo de doar sangue. Se sorriu para pessoas pensando em manda-las à
merda. Se bolou perversões com integrantes da família. Se sentiu saudade. Eu
nunca soube o que essa mulher achava do papa. E de velhas que ainda usam laquê.
Eu não sei onde ela estava quando a Seleção ganhou a Copa de 94. Se ela tomou
algum porre de vinho. Terá ela fingido alguma vez que a coisa estava muito boa
quando estava apenas morna? Compreendeu o significado da palavra “sacrifício” a
tempo? Será que ela se orgulhou de algo que deveria se envergonhar? Será que se
lembrava da primeira vez que viu o mar? Do primeiro beijo? Será que ela se
sentiu digna em alguma oportunidade? E suja? Eu nunca soube o que ela achava do
salário-mínimo. Da ioga. Das surubas. E das coisas que assustam quando pensamos
nelas. De gente que tem medo do escuro. E de quem sabe que temos escuros dentro
da gente. Eu não soube nada disso. Apenas fodíamos. E era bom.
No entanto, eu sabia sua altura.
Porque ela precisava ficar na ponta dos pés toda vez que nos beijávamos.
E sabia seu peso: ela me falou um
dia, na cama, quando quis ficar por cima.
O Veneno
O vinho sabe cobrir o mais sórdido puteiro
De um luxo milagroso,
E faz surgir mais de um pórtico fabuloso
No ouro de seu vapor vermelho,
Como um sol que se põe num céu nebuloso.
O ópio amplia o que não tem contornos,
Alonga a imensidade,
Aprofunda o tempo, cava a voluptosidade,
E de prazeres negros e mornos
Enche a alma para além da sua capacidade.
Tudo isso não vale o veneno que emana
Dos teus olhos verdes, olhar perverso,
Lago onde minha alma treme ao inverso...
Meus sonhos vêm em caravana
Matar a sede no amargo abismo imerso.
Tudo isso não vale a terrível miragem
Do que tua saliva corte,
Mergulha na ausência a minha alma sem sorte,
E, carreando a vertigem,
Arrasta-a desfalecida até a margem da morte!
(Charles Baudelaire)
sexta-feira, 29 de março de 2013
Silver Stallion - Highwaymen
"I'm gonna find me a reckless woman
With razorblades and dices in her eyes
Just a touch of sadness in her fingers
Thunder and lighting in her thighs.
And we're gonna ride, we're gonna ride
Ride like the one-eyed jack of diamonds
With the devil close behind,
We're gonna ride."
Sexta-Feira da Paixão
Alguns estão dormindo de tarde,
outros subiram para Petropólis como meninos tristes.
Vou bater à porta do meu amigo,
que tem uma pequena mulher que sorri muito e fala
pouco, como uma japonesa.
Chego meio prosa, sombras no rosto.
Não tenho muitas palavras como pensei.
"Coisa ínfima, quero ficar perto de ti".
Te levo para Avenida Atlântica beber de tarde
e digo: está lindo, mas não sei ser engraçada.
"A crueldade é seu diadema..."
O meu embaraço te deseja, quem não vê?
Consolatriz cheia das vontades.
Caixa de areia com estrelas de papel.
Balanço, muito devagar.
Olhos desencontrados: e se eu disser, te adoro,
e te raptar não sei como dessa aflição de março,
bem que aproveitando maus bocados para sair do
esconderijo num relance?
Conheces a cabra-cega dos corações miseráveis?
Beware: Esta compaixão é
paixão.
(A.C. César)
outros subiram para Petropólis como meninos tristes.
Vou bater à porta do meu amigo,
que tem uma pequena mulher que sorri muito e fala
pouco, como uma japonesa.
Chego meio prosa, sombras no rosto.
Não tenho muitas palavras como pensei.
"Coisa ínfima, quero ficar perto de ti".
Te levo para Avenida Atlântica beber de tarde
e digo: está lindo, mas não sei ser engraçada.
"A crueldade é seu diadema..."
O meu embaraço te deseja, quem não vê?
Consolatriz cheia das vontades.
Caixa de areia com estrelas de papel.
Balanço, muito devagar.
Olhos desencontrados: e se eu disser, te adoro,
e te raptar não sei como dessa aflição de março,
bem que aproveitando maus bocados para sair do
esconderijo num relance?
Conheces a cabra-cega dos corações miseráveis?
Beware: Esta compaixão é
paixão.
(A.C. César)
quinta-feira, 28 de março de 2013
Poema XIV
Vou moer teu cérebro, vou retalhar tuas
coxas imberbes & brancas.
Vou dilapidar a riqueza de tua
adolescência. vou queimar teus
olhos com ferro em brasa.
vou incinerar teu coração de carne &
de tuas cinzas vou fabricar a
substância enlouquecida das
cartas de amor.
(Roberto Piva)
coxas imberbes & brancas.
Vou dilapidar a riqueza de tua
adolescência. vou queimar teus
olhos com ferro em brasa.
vou incinerar teu coração de carne &
de tuas cinzas vou fabricar a
substância enlouquecida das
cartas de amor.
(Roberto Piva)
sábado, 16 de março de 2013
Pound
Ezra Pound, fotografado por Man Ray
"Diz a ela que vai
Com a canção nos lábios
Mas não canta a canção e ignora
Quem a fez, que talvez uma outra boca
Tão bela quanto a dela
Em novas eras há de ter aos pés
Os que a adoram agora
Quando os nossos dois pós
Com o de Waller se deponham, mudos,
No olvido que refina a todos nós,
Até que a mutação apague tudo
Salvo a Beleza, a sós."
Trecho de "Envoi (1919)", Ezra Pound.
"Gato Manso"
Vivian Porter, em "Ziegfeld Follies"
É repousante achar-se entre mulheres bonitas.
Por que sempre mentir sobre tais coisas?
Repito:
É repousante palestrar com mulheres bonitas
Ainda que falemos apenas nonsenses.
O ronronar das antenas invisíveis
É ao mesmo tempo estimulante e delicioso.
- Ezra Pound
sexta-feira, 15 de março de 2013
Pra você dormir
Não minta para a chuva, nem se esconda com medo dos trovões.
Não existe mal que seja permanente
ou tristeza que um pequeno delírio não desfaça.
Que certa ideia indesejada grude em sua mente,
isto é compreensível.
Que você prefira que uma dor física sobrepuje as
da alma.
Que você chore escutando canções antigas.
Mas, não grite em desespero, sua dor é muda e
ninguém irá te ouvir.
As cortinas fechadas,
o silêncio na casa,
este luto que guardas,
tudo isso que te impede de dormir.
Toda essa dor foi forjada no fogo do teu peito
e é nele que deves encontrar a paz necessária
para que não temas a tempestade.
quarta-feira, 13 de março de 2013
Salmo
O certo é que prezamos a destruição.
Qualquer coisa chegando ao fim, eis o que nos interessa.
Fotografamos ruínas e colecionamos imagens de casas enfermas,
desenganadas pelo tempo,
e apreciamos o turismo por vilarejos decadentes,
prestes a sumir do mapa.
A imagem do velho edifício implodido nos mantêm cativos
diante da TV.
O que move a ferrugem não é mistério para nós:
Conhecemos essa fome - e a respeitamos.
A árvora doente do passeio público nos interessa
mais do que as crianças desaparecidas.
Comovidos, chegamos a abraçar a velha figueira ameaçada,
pretextando solidadriedade.
Mas não somos solidários, não se engane.
Apenas queremos estar por perto na hora final.
O certo é que apreciamos a destruição.
Casais nos falam de crises, da reta final, da beira do precipício.
Ouvimos interessados os pormenores da autópsia conjugal,
queremos saber em que momento
as vísceras do encanto deixaram de cumprir o seu papel,
queremos conhecer tudo que fez do desejo
azinhavre, mancha agônica, bolor.
Existe desamparo maior do que
num velho carro entregue ao pó junto ao meio-fio?
O disco riscado e o livro que perdeu folhas e palavras
são nossos entes queridos.
O amigo que faz aniversário recebe nossos cumprimentos,
pois deu um passo a frente, rumo ao fim.
Vamos a velórios de parentes e conhecidos
com um olho vermelho de consolo, outro verde de curiosidade:
Quem visitaremos inertes da próxima vez?
Amamos o corroído (pontes, trens, viadutos),
o que está prestes a se perder.
Respeitamos o desgastado, o roto,
o que se esfarelou, majestoso.
E esperamos.
Porque algo foi posto em marcha,
está a caminho.
(Marçal Aquino)
Qualquer coisa chegando ao fim, eis o que nos interessa.
Fotografamos ruínas e colecionamos imagens de casas enfermas,
desenganadas pelo tempo,
e apreciamos o turismo por vilarejos decadentes,
prestes a sumir do mapa.
A imagem do velho edifício implodido nos mantêm cativos
diante da TV.
O que move a ferrugem não é mistério para nós:
Conhecemos essa fome - e a respeitamos.
A árvora doente do passeio público nos interessa
mais do que as crianças desaparecidas.
Comovidos, chegamos a abraçar a velha figueira ameaçada,
pretextando solidadriedade.
Mas não somos solidários, não se engane.
Apenas queremos estar por perto na hora final.
O certo é que apreciamos a destruição.
Casais nos falam de crises, da reta final, da beira do precipício.
Ouvimos interessados os pormenores da autópsia conjugal,
queremos saber em que momento
as vísceras do encanto deixaram de cumprir o seu papel,
queremos conhecer tudo que fez do desejo
azinhavre, mancha agônica, bolor.
Existe desamparo maior do que
num velho carro entregue ao pó junto ao meio-fio?
O disco riscado e o livro que perdeu folhas e palavras
são nossos entes queridos.
O amigo que faz aniversário recebe nossos cumprimentos,
pois deu um passo a frente, rumo ao fim.
Vamos a velórios de parentes e conhecidos
com um olho vermelho de consolo, outro verde de curiosidade:
Quem visitaremos inertes da próxima vez?
Amamos o corroído (pontes, trens, viadutos),
o que está prestes a se perder.
Respeitamos o desgastado, o roto,
o que se esfarelou, majestoso.
E esperamos.
Porque algo foi posto em marcha,
está a caminho.
(Marçal Aquino)
terça-feira, 12 de março de 2013
segunda-feira, 11 de março de 2013
Fascinação.
É a unica palavra em que consigo pensar para exprimir o estado
De admiração em que me colocas
O torpor sentido ao te ver caminhar, a profundidade dos teus olhos.
É fascinação essa saciedade,
Esse contentamento
E esse violenta e inexprimível sensação de querer.
Que eu guardo enquanto te aguardo.
sábado, 9 de março de 2013
Uma Prostituta Chamada Esperanza
Há putas que te dão tudo aquilo que você precisa e pelo que pagou, são as que te satisfazem. E existem aquelas que não te dão tudo aquilo que você quer. Estas te aprisionam para sempre. Não é todo dia que se encontra uma, mas elas existem. Não era todo dia que eu encontrava Esperanza, mas sabia que ela estava lá. Ela e seus olhos, duas amêndoas mexicanas pelas quais eu mataria, mas o único ferido nesta história fui eu. É isso, Esperanza conhecia os caminhos para me ferir. Eu lhe dei tudo e agora não sou nada. Ela me deixou, e eu apenas especulo se algum dia realmente estive com ela. Ela me deixou, e eu vejo seus olhos refletidos nos espelhos dos banheiros mais ordinários. Ela me deixou, mas eu encontro um pouco dela nas sombras de meio-dia, nas variações da tonalidade de sua voz. Ela me deixou e eu a procuro nos locais mais impossíveis. Ela me deixou, e ela era meu norte, meu ponto de equilíbrio, minha zona de conforto, minhas vestes de escoteiro, minha estação de rádio favorita, a assinatura de meu crime, minha divindade pagã a quem eu me oferecia em sacrifício. Esperanza, e suas mentiras. Esperanza, e seus lábios cortados e doces. Esperanza, e a maneira única como ela me tocava. Esperanza em meus sonhos. Subtraindo minhas certezas, ela nunca aparece por completo. Eu subi aquelas escadas, olhei nos olhos de todas as garotas e apenas em Esperanza eu contemplei a possibilidade de um milagre.
I Let Love In
"Despair and Deception, Love's ugly twins
Came a-knockin' on my door, I let them in
Darling, you're the punishment for all my former sins
I Let Love in."
quinta-feira, 7 de março de 2013
Manhã de Sol com Azulejos
TUDO SE VESTE DA COR DE TEU VESTIDO AZUL
tudo - menos a dona do vestido:
meus olhos te passeiam nua
pela grama do campo de golfe
Uma curva e ei-nos diante do meu coração
Não amiga,
não temas;
meu coração é apenas um chapéu surrado
que humildemente
estendo
pra colher um pouco da tua graça distraída
de teu dia
(Francisco Alvim)
segunda-feira, 4 de março de 2013
Longing For
"Longing for".
Hsin Yao-Tseng
O que ela tem em mãos
São só algumas linhas que não dizem nada sobre ela.
Algumas linhas, uma marca de nascimento,
Um pedaço do meu coração
E a profana habilidade de fazer de mim o que quiser.
sábado, 2 de março de 2013
"A Morte está diante de mim hoje:
Como a recuperação de um homem doente,
como ir para um jardim após a doença.
A Morte está diante de mim hoje:
Como o odor de mirra,
como sentar-se sob uma vela num bom vento.
A Morte está diante de mim hoje:
Como o curso de um rio, como a volta de um homem
da galera para sua casa.
A Morte está diante de mim hoje:
Como o lar que um homem anseia por ver,
após anos passados como um cativo."
Como a recuperação de um homem doente,
como ir para um jardim após a doença.
A Morte está diante de mim hoje:
Como o odor de mirra,
como sentar-se sob uma vela num bom vento.
A Morte está diante de mim hoje:
Como o curso de um rio, como a volta de um homem
da galera para sua casa.
A Morte está diante de mim hoje:
Como o lar que um homem anseia por ver,
após anos passados como um cativo."
sexta-feira, 1 de março de 2013
sábado, 23 de fevereiro de 2013
Into My Arms
"Eu não acredito em um Deus intervencionista
Mas eu sei, querida, que você acredita.
Mas, se eu acreditasse eu me ajoelharia e o pediria
Para não intervir quando você vem até mim.
Para não tocar um fio de cabelo em sua cabeça,
Para deixá-la como você é.
E se Ele sentisse que ele precisasse direciona-la,
Te direcionasse para os meus braços"
"E eu não acredito na existência de anjos.
Mas, olhando para você, eu questiono se isso é verdade.
Mas, se eu acreditasse, eu os convocaria todos,
E pediria a eles para olharem por você.
Para que cada um acendesse uma vela por você
Para iluminar e clarear seu caminho
Para caminhar, como Cristo, em graça e amor
E guiar-te para os meus braços".
"Mas eu acredito no amor
E eu sei que você acredita também.
E eu acredito em algum tipo de caminho
Que nós podemos atravessar, eu e você.
Então mantenham suas velas acesas,
E faça sua jornada brilhante e pura,
Que ela permaneça voltando
Sempre e cada vez mais,
Para os meus braços".
Amor Brando
Se aproxime de mim um pouco; mas não tanto,
A ponto de eu sentir sua falta quando você for embora";
Karina Buhr - "Amor Brando".
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
Incorrigível
Eu não escrevo mais poemas.
Meus dedos se petrificaram e agora só talham
frias descrições de fatos
sem cheiro nem sabor,
apenas tecem um trabalho rude e contam
um metal que, vamos lá, nem é tão vil assim,
se pagam meus cigarros, minha bebida.
Eu não escrevo mais poemas.
Se ainda escrevo em versos, é por força do hábito,
esse inimigo invisível, essa lira proustiana,
que faz com que o abandono do que quer que seja,
por pior que seja, seja sempre dolorido;
Não há mudança que não implique num certo
sentimento de perda, isso é sabido.
Se anoto o endereço que me dão por telefone,
ele sai em versos.
Se escrevo um bilhete para a guria triste de cabelos cacheados
No outro lado do bar, ele sai em versos;
Ontem mesmo escrevi um e-mail de trabalho, e era assim:
"A reunião pode ser às 15.
Quanto mais cedo,
Menos triste"
Está certo ser assim, tão incorrigível?
Meus dedos se petrificaram e agora só talham
frias descrições de fatos
sem cheiro nem sabor,
apenas tecem um trabalho rude e contam
um metal que, vamos lá, nem é tão vil assim,
se pagam meus cigarros, minha bebida.
Eu não escrevo mais poemas.
Se ainda escrevo em versos, é por força do hábito,
esse inimigo invisível, essa lira proustiana,
que faz com que o abandono do que quer que seja,
por pior que seja, seja sempre dolorido;
Não há mudança que não implique num certo
sentimento de perda, isso é sabido.
Se anoto o endereço que me dão por telefone,
ele sai em versos.
Se escrevo um bilhete para a guria triste de cabelos cacheados
No outro lado do bar, ele sai em versos;
Ontem mesmo escrevi um e-mail de trabalho, e era assim:
"A reunião pode ser às 15.
Quanto mais cedo,
Menos triste"
Está certo ser assim, tão incorrigível?
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
Mudanças (III)
Que ninguém me tome pela minha sombra. Nem olhe em meus olhos pensando estar vendo meu coração. Não especule sobre minha mente antes de conhecer minhas entranhas. Não se espante se meu corpo quente guardar uma alma gelada, e nem se descobrir que a unica lágrima que eu derramar for de raiva. Tanta vida e tão pouco corpo, tão pouco tempo, tão poucas escolhas. O sangue pulsa, o tempo absorve, as lágrimas secam e a vida... a vida se nutre disso tudo, se expandindo e se contraindo sem esperar que eu a entenda ou me prepare. Mas, não é assim com todo mundo? Milagres acontecem. Mas não se pode contar com eles. A vida é uma guerra e minha mente o primeiro campo de batalha. E eu, tão avesso a combates, tive que aprender a lidar com exércitos levantando cerco contra a fortaleza em que transformei meu coração. Tudo, eu disse, tudo em vão. E agora, me forço a um recuo estratégico, para reagrupar minhas tropas e preparar minha ofensiva. Noites de amor, dias de guerra.
"Não quero ficar dando adeus
Às coisas passando.
Eu quero é passar com elas
E não deixar nada mais do que as cinzas de um cigarro.
E a marca de um abraço no seu corpo.
Não, não sou eu quem vai ficar no porto chorando
Lamentando o eterno movimento dos barcos..."
Jards Macalé, "O Movimento dos Barcos".
Às coisas passando.
Eu quero é passar com elas
E não deixar nada mais do que as cinzas de um cigarro.
E a marca de um abraço no seu corpo.
Não, não sou eu quem vai ficar no porto chorando
Lamentando o eterno movimento dos barcos..."
Jards Macalé, "O Movimento dos Barcos".
domingo, 17 de fevereiro de 2013
Mudanças (II)
"So the days float through my eyes
But still the days seem the same
And these children that you spit on
As they try to change their world
Are immune to your consultations
They're quite aware of what they're going through"
sábado, 16 de fevereiro de 2013
Mudanças (I)
"Todas as mudanças, mesmo as mais desejadas, têm sua melancolia.
Pois o que deixamos pra trás, é uma parte de nós mesmos.
Devemos morrer para uma vida antes de podermos entrar em uma outra"
Anatole France
Mal Secreto
"Não choro. Meu segredo é que sou rapaz esforçado.
Fico parado, calado, quieto.
Não morro, não choro, não converso.
E passado meu medo,
Mascaro minha dor, já sei sofrer.
Não preciso de gente que me oriente".
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
Farta-te
Foi num entardecer qualquer, numa praia vazia.
Com os olhos marejados e
Segurando minha mão, ela me contou
Que seus lábios fartos
Estavam fartos da pronúncia seca
De palavras outrora sacras.
Ela disse 'eu te amo' mais uma vez,
E aquela seria a última.
Foi então que eu disse 'farta-te
Esgote a vida que há em meu corpo
Que de nada serve se não alimentar o teu'.
Entreguei-me como quem se dá em sacrifício,
Como quem prova do próprio veneno,
Como o vampiro que fica ao lado da amada até que
O primeiro raio de sol venha para despertá-la de sonhos ruins e
Transformar o amor dele em cinzas.
Com os olhos marejados e
Segurando minha mão, ela me contou
Que seus lábios fartos
Estavam fartos da pronúncia seca
De palavras outrora sacras.
Ela disse 'eu te amo' mais uma vez,
E aquela seria a última.
Foi então que eu disse 'farta-te
Esgote a vida que há em meu corpo
Que de nada serve se não alimentar o teu'.
Entreguei-me como quem se dá em sacrifício,
Como quem prova do próprio veneno,
Como o vampiro que fica ao lado da amada até que
O primeiro raio de sol venha para despertá-la de sonhos ruins e
Transformar o amor dele em cinzas.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
Foi Na Cruz
Para os católicos, a Quaresma marcava o período de 40 dias que deveriam ser guardados à reflexão, elevação espiritual e penitência, que termina na festa da Páscoa, uma celebração de Renascimento. Os clérigos instruíam os fiéis a meditar, durante a Quaresma, sobre os ensinamentos do Evangelho e o quanto suas vidas se assemelhavam com o que era recomendado pelos textos sagrados. Talvez seja uma das unicas coisas na simbologia cristã que me sempre me cativou. Toda a liturgia envolvendo a semana santa, cerimônia de lava pés, as penitências, o jejum, tudo. E justamente agora, quando mais uma onda de confusão, introspecção e pedidos de socorro não feitos me invade, inicia-se a Quaresma. Estou decidido a me dedicar nos próximos dias a uma espécie de Quaresma particular. Me livrar de antigas vestes. Observar mais de perto meus hábitos e arrancar aqueles que tem me impedido de gozar a plenitude de minha vida. Vou me dedicar apenas àquilo que sempre julguei essencial para mim e eliminar as superficialidades. Uma série de penitências e privações serão observadas para que isto aconteça. Para que eu possa renascer, das cinzas se for preciso.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
Um dia esse inverno teria de acabar
Photo por Maíra Martins
Foi no inverno do ano de 2004, eu não me recordo direito nem o mês nem o dia. Na tentativa de viver, eu na verdade joguei uma vida inteira fora. Acordei um dia nos braços do acaso, confundi-o com o abraço da virtude e desde então nunca mais retornei de uma vida errante que oscila entre a fortuna e os revezes mudando de direção a cada lance de dados.
Ou teria sido no verão de 2000? Não bastasse o calor que não me deixava pensar direito, ainda diziam que seria o fim do mundo. E eu sempre pensei como seria fazer 18 anos em plena virada de década, século, milênio...
Mas e o outono de 99? Eu ainda tinha grandes expectativas nesta época, e nenhuma delas tinha relação com fazer tudo o que fiz depois. Talvez tenha sido ali que eu tenha sepultado minhas vontades e desejos mais genuínos, inebriado pelo cheiro dos cabelos dela e pela droga que inalávamos.
Mas olha, eu só estou escrevendo isso, pra eu te dizer que eu encontrei. Achei tudo que eu havia dito. Tenho lentamente recobrado minha alegria de viver. Lembrei de tudo aquilo que queria. E ao contrário dessas pessoas covardes que olham para o passado e se acham velhas demais para o antigo entusiasmo, eu só consigo pensar que a melhor hora pra conseguir tudo é agora. Talvez antes eu não estivesse preparado. Agora estou.
Such a nice evening.
Estou pronto para uma primavera de amor.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
Bilhete Anônimo Nº5
Não mexam aqui. Uma dor, quando mexida, vira qualquer coisa entre a sombra e o desespero. Uma dor quieta fica bege. Deixem-me amuada nesse canto onde vezemquando bate uma brisa, onde posso ouvir os amigo gargalhando, onde escuto ainda o eco de uma promessa contrabandeada às pressas na fronteira intangível dos sentidos.
Luana Vignon, Aqui.
Luana Vignon, Aqui.
As Sombras (I)
"O Sono da Razão Produz Monstros" - Goya.
As trevas que preenchem minha mente guarda faces ou vozes que eu não quero ver, e eu sei que eu não posso ficar a sós com elas. E é por isso que todas as noites busco um alívio para esse espírito torturado, para estes suplícios auto-inflingidos e para a redenção deste corpo condenado no tribunal da memória. O bálsamo que tem me servido de consolo para as trágicas horas noturnas, entretanto, também faz despertar o que há muito havia adormecido. Ele alivia as dores do corpo abre frestas nos umbrais da Razão, assim permitindo que os monstros entrem. Não me sinto triste, mas sei também que ficar na triste não seria o pior que poderia me acontecer quando em minha cabeça fica apenas a imagem de pregos, cruzes e um saco de moedas.
terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Jesus Almost Got Me
"Love is cruel.
Love is truly absurd;
Jesus almost got me,
I don't know how many prayers he overhead".
Anita Lane.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
domingo, 27 de janeiro de 2013
sábado, 26 de janeiro de 2013
Eu estou tão cansado de fazer
coisas sozinho. Não é exatamente uma lamentação, mas uma constatação. Senti
isso esses dias. Ok, passei minha vida inteira assim. Até gostava. Pra falar a
verdade, não foram poucas as vezes em que me peguei me jactando disso, como se
eu não precisasse de outras pessoas para me divertir, para aprender e tudo o
mais. E agora, depois de passar um ano praticamente vendo filmes só, indo a
bares, lugares, caminhadas, tudo, sozinho, me vejo cansado. Isso me leva a uma
época de minha vida do qual não guardo mais boas lembranças. E vejo pessoas que
lidam muito bem com esse tipo específico de solidão. Elas vão pra lá e pra cá,
solitárias, evitando aqueles programas que precisem de mais pessoas. Mas, na
verdade, elas estão à espera de sua “alma gêmea”, com quem elas sairão sempre,
para todo e qualquer lugar, felizes. A solidão delas é diferente. É uma solidão
em modo “stand by”. Tem data para acabar, apesar de esta ser indefinida. Não
sou eu. Eu me cansei de minha solidão planejada. Saio e fico apenas observando
aqueles que desfrutam da companhia de várias pessoas. Lembro-me de minha
infância sozinho em casa por períodos longos e longos. Das noites em claro
vendo a programação de madrugada na TV. É claro que isso influenciou muito do
que sou hoje. Não é tarde demais para mudar isso. Eu apenas não sei se tenho as
ferramentas necessárias.
Observando Alice
Alice desperta,
É manhã.
Ela está bocejando
Enquanto caminha pelo quarto.
Seu cabelo cai sobre seu peito
Ela está nua e é junho.
Parada em frente à janela
Eu me pergunto se ela sabe que posso ver.
Observar Alice se levantar ano após ano
Em seu palácio, ela está cativa lá.
O corpo de Alice
É de um marrom dourado.
Seu cabelo pende
Enquanto ela o escova cem vezes.
Primeiro ela veste suas meias,
E então os sinos da igreja soam.
Alice se põe em seu uniforme
Os zippers ficam ao lado.
Observar Alice se vestir em seu quarto.
É tão triste. É cruel.
Observar Alice se vestir em seu quarto.
É tão triste. É cruel.
"Watching Alice". Nick Cave.
Do Disco "Tender Prey".
É manhã.
Ela está bocejando
Enquanto caminha pelo quarto.
Seu cabelo cai sobre seu peito
Ela está nua e é junho.
Parada em frente à janela
Eu me pergunto se ela sabe que posso ver.
Observar Alice se levantar ano após ano
Em seu palácio, ela está cativa lá.
O corpo de Alice
É de um marrom dourado.
Seu cabelo pende
Enquanto ela o escova cem vezes.
Primeiro ela veste suas meias,
E então os sinos da igreja soam.
Alice se põe em seu uniforme
Os zippers ficam ao lado.
Observar Alice se vestir em seu quarto.
É tão triste. É cruel.
Observar Alice se vestir em seu quarto.
É tão triste. É cruel.
"Watching Alice". Nick Cave.
Do Disco "Tender Prey".
quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Obra-prima
Messi já é melhor que Maradona, mas ele nunca será maior que Maradona.
maradona aproxima o futebol do Rock, do perigo (lembre-se de "Gimme Danger", dos Stooges), Messi da Bossa Nova, da beleza previsível. A beleza simétrica de suas jogadas encanta a todos, mesmo a mim. Mas, será sempre menor que a beleza nascida do pecado.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
Que saudade disso aqui
De quê? Da inocência sacrificada neste altar sujo. Da libertinagem apenas sugerida nas entrelinhas (da musica ou dos olhares). Do desejo sem as correntes do pudor. Just one gig, nada mais.
Olhando o Calendário
Há algum tempo, a vida era sombra;
Ontem você apareceu e fez-se luz sobre a escuridão;
Hoje você se foi e as trevas voltaram;
Mas agora eu posso olhar para elas com carinho:
31 de julho ou 28 de maio e tanto faz,
eu já não me sinto sozinho.
Amanhã eu farei destas lembranças
Um calendário sentimental com teu nome marcando cada um dos meses.
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
Quando o Amor Não Começa ou Acaba
Lá vai ele, desavisado, distraído e soturno, fingidor de todas as mazelas que ele insiste em demonstrar num exercicío óbvio de distanciamento de tudo aquilo que realmente importa. Observando com desatenção os quadros que ele mesmo pendurou nos infindáveis salões da memória, ele se pergunta qual deles retrataria o amor que nunca teve. A caminhada é longa se você não possui companhia, mas isso não significa que não existam caminhos que precisem ser trilhados sozinho: Você apenas vai. Seu coração foi forjado em meio às chamas do desejo, os espinhos do amor e o medo da morte, sempre foi assim. Então não há porque acreditar que esta será sua última parada, há de surgir uma força maior em você depois de tudo. Se o engano faz parte do aprendizado, não é preciso ter vergonha de não ter percebido quando o amor se aproximou daquilo que antes era fumaça, ou mesmo por não ter deixado ele entrar quando este bateu em sua porta. O amor é um visitante que chega sem fazer barulho mas que causa alvoroço na partida. Quando o amor não começa, então, você se sente um estrangeiro em uma terra desconhecida, mas nós não deveríamos ansiar por sua chegada. Prestando atenção apenas nas placas mais brilhantes, nós deixamos passar os sinais enferrujados que encontramos no caminho e que indicam direções mais sutis para nossos corações.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
sábado, 12 de janeiro de 2013
Nada Disso Importa
Éramos nada.
Ainda assim, éramos vida.
Éramos como o grito que irrompe no silêncio,
O relâmpago que interrompe a escuridão,
Como a bala que atravessa a carne, como o pesadelo que
corrompe o sono;
Ou talvez, fossemos a palavra que destrói o tédio,
A tempestade que devasta a calmaria.
Nosso amor era nada, era silêncio,
Escuridão, carne, sono, tédio e calmaria,
Uma ponte sobre as águas turbulentas que éramos nós.
Um Sonho
Havia essa sala de paredes pintas de amarelo, e haviam estrelas negras desenhadas num teto amarelo. pendurados no teto através de arames farpados, relógios despertadores de vários tamanhos e cores, mas seus ponteiros estavam parados. Não havia porta, mas eu não estava realmente preocupado. Parecia um bom lugar para eu deitar e continuar lendo meu livro (cujo título não me lembro). Acontece que de repente eu fui tomado pelo medo de que os despertadores pudessem começar a soar em uníssono. Não demorou e esse medo transformou-se em um pânico aterrador. Eu chutava as paredes tentando abrir um buraco, gritava por socorro e tudo parecia em vão. Pensei então em destruir os despertadores, mas um medo ainda maior me tomou e não fiz isso. E se precisasse deles algum dia? Poderia destruir todos e deixar apenas um e destruir o restante, mas eu não sabia qual funcionaria. Deitei sobre a cama e tentei me acalmar, mas era impossível. Resolvia novamente quebrá-los, mas percebi que nem conseguia mais me aproximar deles. E isso foi se repetindo, repetindo, deitava, levantava, caminhava por entre aqueles imponentes símbolos de horror e meu pânico crescia. Abri o livro, li alguma linhas e fechei. Recordei o quão racional eu era e decidi que deveria examinar melhor minha situação. Decidi que meu pânico vinha da incerteza sobre se os relógios soariam seus alarmes ou não. Eu sabia como acabar com aquela angustia. Dei corda em todos eles, e programei seus alarmes, analógicos e digitais para o mesmo horário. Eu sabia que enlouqueceria quando essa hora finalmente chegasse, mas agora eu poderia desfrutar de alguns momentos de tranquilidade antes disso. Me deitei e busquei dormir, certo da hora fatal, mas, em paz até lá.
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
Ainda Assim, Volto
"When I look at you/oh, I don't know what's real/for once in a while/you make me laugh. And I'll sleep tomorrow and you won't be long/I won't stand around/Then you took me down/When you walk away. When you say "I do"/Oh, but I don't believe in you/I can't forget it, no."
My Blood Valentine, "When You Sleep"
Volto pois toda esta incerteza me aniquila. Volto pois meu coração sempre se aperta entre os ossos quando fico longe. Volto conhecedor de todas as possíveis consequências de minha volta e ainda assim confuso e fiel, convencido de que você me ressuscitará com um simples sopro seu. E por que não há de ser assim? Crer e agir como se pudesse ser diferente tem me causado mais dano que uma rejeição. Vou saborear cada derrota, cada triste volta pra casa, deitarei só com meus fantasmas, apenas para despertar no dia seguinte com a sensação de sua mão ter tocado a minha durante o sono. E assim eu volto. Volto pra acalmar o grito que há dentro de mim. Volto para contemplar o céu e o inferno juntos em seus olhos. Volto pela habilidade que tens de, com um sorriso e um pequeno gesto com a mão, tornar-se musa.
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
sexta-feira, 30 de novembro de 2012
Sobre toca-discos e um gosto qualquer seu
Eu (e todos nós) e meus (nossos) pequenos
espantos cotidianos, como aquele toca-discos encostado num canto do quarto e
que volta a funcionar de repente quando você simplesmente está sem saco pra
dormir e fazendo qualquer coisa para que o tempo passe. Foi com este sentimento
que encontrei rabiscado em meu antigo caderno de notas uma frase sobre você.
Era assim: “e ela chegou flutuando e criou um paraíso dentro do meu inferno”,
no meio de umas tantas bobagens que eu já havia esquecido. Mas esta frase,
especificamente, não era uma bobagem. Era, continua sendo, muito sério. Mas
acho que só agora eu entendo as implicações dela. Como exclamado pelo
personagem de Noites Brancas, ninguém
precisa de mais do que um minuto inteiro de felicidade para sentir que sua vida
valeu a pena. E foi muito mais que um minuto, foram horas e horas que você me
entregou! E enquanto eu fumava meu último cigarro da noite na varanda, me
perguntava como pude até a pouco tempo querer me livrar do gosto em minha boca que eu
acreditava ser amargo porque amarga está minha vida. Neste exato momento, com
toda minha atenção voltada apenas para mim, percebi que meus lábios ainda tinham o
seu sabor, e é aquele mesmo agridoce que senti na primeira vez em que estivemos
realmente juntos. E eu não quero esquecer isso. Não quero perder. O gosto
amargo que sobe de meu estômago até a boca por tantas vezes em meu dia nada tem
a ver com a lembrança de nossos beijos clandestinos. Não importa se não os
tenho mais, não exorcizarei esta lembrança como um cão tocado de dentro da
igreja. É minha vida que tem me dado dissabores dos quais não consigo me
livrar. Não sou o mesmo que era antes, e como poderia? Acontece que ainda não fiz
os ajustes necessários entre quem sou agora e aquela pequena essência da qual
sou feito, que ainda persiste dentro de mim. E nem sei se farei um dia. De
alguma forma eu tento lidar com este descompasso e a grande descoberta destes
dias de total inércia pelos quais passei foi ver que este azedume nada tem a
ver com você. Não vou, não posso mentir: My
heart still hurts from last night, como diria aquela música bacana. A queda
foi dura. Mas eu estou me erguendo, e não preciso esquecer pra isso. Veja só, andei
perambulando pela casa de muita gente recentemente e, pode até parecer irônico,
não foram poucas aquelas nas quais havia um toca-discos quebrado num canto qualquer.
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
Do diário de Anaïs Nin
Cena do filme "Henry & June", de Philip Kaufman
"Pela primeira vez sei o que é comer. Ganhei 2 Kg. Fico desesperadamente faminta, e a comida que como me dá um prazer duradouro. Nunca comi dessa maneira profunda e carnal. Só tenho três desejos agora, comer, dormir e foder. Os cabarés me excitam. Quero ouvir música roca, ver rostos, roçar-me em corpos, beber um Benedictine ardente. Belas mulheres e homens atraentes provocam desejos em mim. Quero dançar. Quero drogas. Quero conhecer pessoas perversas, ser íntima delas. Nunca olho para pessoas inocentes. Quero morder a vida, e ser despedaçada por ela. Henry não me dá tudo isso. Eu despertei o seu amor. Ele sabe foder como ninguém, mas eu quero mais do que isso. Eu vou para o inferno, para o inferno, para o inferno. Selvagem, selvagem, selvagem".
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Eu não preciso de nada que me distraia esta manhã
Nada pra me fazer rir, também;
Tenho gargalhado o bastante nos últimos dias,
Risadas demais pra alguém a beira do abismo e
Que tem sonhado todas as noites com o fundo do mar.
O que precisava hoje era tão somente de uma boa notícia,
Uma notícia que fosse para mim.
Uma boa notícia, uma surpresa ou um convite;
Era tudo que eu precisava para iluminar esta manhã,
Porque do sol que brilha lá fora eu já estou farto.
Já disse que aquilo que preciso esta manhã é uma surpresa:
Uma carta num envelope enfeitado chegando pelos correios,
Escutar na rua uma música perdida em minha lembrança,
Ou você, telefonando pra dizer que já vem.
Nada pra me fazer rir, também;
Tenho gargalhado o bastante nos últimos dias,
Risadas demais pra alguém a beira do abismo e
Que tem sonhado todas as noites com o fundo do mar.
O que precisava hoje era tão somente de uma boa notícia,
Uma notícia que fosse para mim.
Uma boa notícia, uma surpresa ou um convite;
Era tudo que eu precisava para iluminar esta manhã,
Porque do sol que brilha lá fora eu já estou farto.
Já disse que aquilo que preciso esta manhã é uma surpresa:
Uma carta num envelope enfeitado chegando pelos correios,
Escutar na rua uma música perdida em minha lembrança,
Ou você, telefonando pra dizer que já vem.
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
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Deixa eu bagunçar você
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